Primeiro romance de Carla Guerson, uma autora capixaba que não faz cerimônia. Ela vai direto ao ponto, escancarando as feridas da protagonista, Catarina, com um toque de delicadeza. Guerson nos lembra que a dor não escolhe idade; a protagonista ainda criança é forçada a encarar as ausências em sua trajetória.

Quintana nos leva a Cáli, na Colômbia dos anos 90, em um apartamento cheio de plantas – uma selva bem cuidada que contrasta com o lar frágil e uma mãe afundada em sua própria apatia. Não importa a época ou o lugar; o que ressoa em nós são os sentimentos humanos. Claudia vai descobrindo o peso das escolhas, o temor da morte e o enigma dos abismos que sua mãe encara – e que ela mesma pode um dia enfrentar. É lindo e doloroso.

Claudia narra o que não deveria ver, sente o que ainda não entende. Quintana acerta na verossimilhança da voz infantil, que entrega uma narrativa honesta, desarmada, e ainda assim pungente. É menos feroz do que A Cachorra, outro romance da autora, mas igualmente poderoso. Pilar consegue extrair tanto de tão poucas palavras, deixando a gente na beira do abismo junto com suas personagens.

Pra quem ama: dramas familiares, personagens femininas complexas, a sutileza das tragédias cotidianas. Pilar Quintana entrega isso e mais um pouco.

Vamos de resenha de Oração para desaparecer, de Socorro Acioli? Esse segundo romance da autora, lançado em 2023, continua a explorar o realismo mágico, enraizado na brasilidade. Dividido em três partes, o livro te pega de jeito logo na abertura. Mas, além de intrigante, é confuso: Cida conversa com um interlocutor desconhecido. Depois descobrimos que é Félix Ventura, um “criador de passados”. Ela conta que é uma ressurrecta, surgida do nada em Almofala (Portugal), sem memória, mas com o desejo de construir uma vida com Jorge.

“A Pediatra” estava na minha wish-list há séculos, e finalmente tirei da fila. Spoiler: já devorei. O livro é como aquele filme que você assiste de uma vez só, sem piscar, sem pausar, porque sabe que se parar, vai perder o fôlego. E olha, a Cecília, a protagonista, é a definição de detestável... e eu adorei isso. Ela é hipnotizante, daquelas que te fazem torcer o nariz e, mesmo assim, você não consegue largar.

Li “Alguém que você conhece” da autora Shari Lapena. Esse é o segundo livro dela que leio e confesso que gostei mais desse do que o anterior, o famoso “O casal que mora ao lado”.

Esse foi o primeiro livro de Fredrik Backman que li, admito que muito pelo hype. Fui logo tragada pela narrativa nas primeiras páginas, tentando entender o assalto que parece não ter dado certo. A trama se desenvolve de três maneiras distintas: uma com o narrador onisciente revelando detalhes importantes sobre o suicídio de um homem há 10 anos; outra narrando os eventos dentro do apartamento durante o incidente e as interações entre os policiais responsáveis pelo caso; e uma terceira apresentando as transcrições dos depoimentos dos reféns.

"Loucos por Livros" é o segundo livro da Emily Henry que leio, e posso dizer que gostei muito, muito mesmo! O primeiro foi meio que uma decepção, mas este superou todas as expectativas. A escrita é fluida e envolvente, com muitas pitadas de humor.

Em "A última livraria de Londres", Madeline Martin nos transporta para a cidade de Londres, mergulhando-nos em uma atmosfera envolvente e emocionante.

O livro apresenta Grace, uma jovem que sempre sonhou viver em Londres, mas não enquanto uma guerra acontece... Ela consegue um emprego na livraria Primrose Hill unicamente para conseguir uma carta de recomendações. A jovem não tem o hábito da leitura e se sente deslocada no local, ainda mais com um proprietário ranzinza como o Sr. Evans.

Aos poucos, a protagonista vai se afeiçoando não apenas ao seu chefe rabugento, mas à livraria, aos clientes e aos livros.

Após ler “O conde monte cristo”, ela passa a devorar outras obras e, durante os blecautes e bombardeios, ela tenta fazer o possível para que a livraria seja um ponto onde as pessoas encontrem refúgio através da literatura.

A obra é cheia de clichês, mas eu adoro um clichê. O que me incomodou na leitura foi superficialidade de alguns temas e relações entre os personagens. Em algum momento, me pareceu que as coisas foram sendo jogadas.

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FICHA TÉCNICA

Livro: A última livraria de Londres

Autor: Madeline Martin

Editora: Arqueiro

Número de páginas: 272 páginas

ISBN: 978-6555653281

Eu estava com "A biblioteca da meia noite" na minha estante do Kindle há um tempo. Tanto que quando o peguei para ler já não fazia ideia do que a história tratava. Isso foi muito positivo porque comecei a leitura sem spoilers e fui me surpreendendo positivamente, especialmente porque é uma leitura que traz muitas reflexões e início de ano sempre é um período fértil para isso.

O começo é muito instigante. Quando li "cinco horas antes de ela decidir morrer...", eu pensei: opa! como assim?!

A obra nos apresenta à Nora Seed. Aos 35 anos, ela é uma mulher cheia de talentos e poucas conquistas. Arrependida das escolhas que fez no passado, ela vive se perguntando o que poderia ter acontecido caso tivesse vivido de maneira diferente. Após ser demitida e seu gato ser atropelado, Nora vê pouco sentido em sua existência e decide colocar um ponto final em tudo. Porém, quando se vê na Biblioteca da Meia-Noite, Nora ganha uma oportunidade única de viver todas as vidas que poderia ter vivido.

"Entre a vida e a morte, há uma biblioteca — disse ela. —E, dentro dessa biblioteca, as prateleiras não têm fim. Cada livro oferece uma oportunidade de experimentar outra vida que você poderia ter vivido. De ver como as coisas seriam se tivesse feito outras escolhas... Você teria feito algo diferente, se houvesse a chance de desfazer tudo de que se arrepende?"

Quando chegamos na Biblioteca, pensei que a narrativa iria caminhar para o fantástico, mas não. O autor amarrou tudo à questões da física como universos paralelos e multiverso.

Então seguimos - céticos - acompanhando as várias possibilidades de vida de Nora e foi nisso que o livro não surpreendeu. Muitos acontecimentos são previsíveis. Mesmo assim, continuamos a leitura porque ela reflete sobre temas universais, ao mesmo tempo em que é leve (apesar de trazer vários gatilhos) e ágil com capítulos curtos.

A maior parte das ponderações está baseada na filosofia, afinal essa é a formação de Nora. Vamos encontrar muito de Thoreau, seu filósofo favorito.

Mesmo com todos os clichês sobre o sentido da vida, acho que vale a leitura, pois não custa nada nos lembrarmos de que "O impossível, acho, acontece com o viver".

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FICHA TÉCNICA

Livro: A biblioteca da meia noite

Autor: Matt Haig

Editora: Bertrand Brasil

Número de páginas: 308 páginas

ISBN: 978-6558380542

A primeira coisa que tenho a dizer é que não sabia que “O labirinto do Fauno” é uma adaptação literária do filme homônimo escrito e dirigido por Guillermo Del Toro. Acho que estou tão acostumada com o contrário que quando li o posfácio de Cornelia Funke, coautora da obra, me surpreendi e decidi começar a resenha por isso. Mas... esclarecido o motivo das descrições do livro serem tão fiéis ao filme, vamos à história.

SINOPSE: Em 1944, na Espanha, a jovem Ofélia e sua mãe doente chegam ao posto do novo marido de sua mãe, um sádico oficial do exército que está tentando reprimir uma guerrilheira. Enquanto explorava um labirinto antigo, Ofélia encontra o Pan fauno, que diz que a menina é uma lendária princesa perdida e que ela precisa completar três tarefas perigosas a fim de se tornar imortal.

O livro entrelaça a história de Ofélia com contos que compõem o Livro das Encruzilhadas entregue pelo Fauno à princesa numa harmonia poética. Eles não apenas completam a narrativa como a elevam.

“Embora desejada, a verdadeira magia é assustadora”.

Uma das coisas que me impressionou quando assisti ao filme muitos anos atrás foi o modo distinto que o assunto da guerra foi tratado. O realismo fantástico evocado por Del Toro não amenizou as barbáries do confronto, mas enriqueceu a reflexão ao inserir o elemento mágico.

Existe mágica mesmo em momentos de desesperança como nos desdobramentos da Guerra Civil Espanhola. Ou, talvez, justo por isso, a magia é necessária para enfrentar e sobreviver.

“Todos nós inventamos nossos contos de fadas”.

Todos mesmos. Além de Ofélia, o livro consegue ressaltar os demais personagens. Acompanhamos seus sentimentos, medos e desejos.  e conecta-los aos contos. 

O final do livro pode não ser o esperado pela maioria dos leitores, mas é coerente com toda a narrativa. E novamente, cabe ao leitor extrair a beleza da tristeza.

“Cada respiração era um ato de coragem”.

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FICHA TÉCNICA

Livro: O labirinto do fauno

Autor: Guillermo del Toro e Cornelia Funke

Editora: Intrínseca

Número de páginas: 320 páginas

ISBN: 978-8551005194

SINOPSE: Num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos 1970, cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo plausível. A tragédia, ocorrido no seio de uma família que, em oposição aos efeitos já perceptíveis da revolução sexual, vive sob severas restrições morais e religiosas, é narrada pela voz coletiva e fascinada de um grupo de garotos da vizinhança. O coro lírico que então se forma ajuda a dar um tom sui generis a esta fábula da inocência perdida.

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As virgens suicidas. O título não faz mistério. Logo nas primeiras linhas sabemos que um suicídio vai acontecer e que ele não será o único. Mesmo antecipando o que virá, a tensão do texto nos arrasta. Não é tanto o fim em si, mas a jornada que leva as cinco irmãs Lisbon a tirarem suas vidas. Não importa tanto o que aconteceu, mas como aconteceu. Os motivos? Indefinidos. Jamais saberemos. Morreu junto com elas.

Uma juventude interrompida pelos padrões impostos pelos pais. As adolescentes são virgens não apenas no sentido sexual da palavra, mas de qualquer experimentação de vida. Elas são encarceradas em sua casa. Impedidas de viver, quando na verdade, era apenas isso que elas queriam.

"Cecília era esquisita, mas nós não somos como ela". E então: "A gente só quer viver. Se alguém deixar".

Já falando de tecnicidades, adorei a voz narrativa ser plural. Não temos um narrador, mas um coletivo formado pelos adolescentes vizinhos e colegas de escola. A fixação deles pelas garotas, a observação parcial cheia de hormônios e de curiosidade nos envolve, chegando a confundir algumas vezes.

"Elas nos fizeram participar de sua própria loucura, porque não conseguíamos deixar de refazer seus passos, repassar seus pensamentos, e ver que nenhum deles conduzia até nós".

Depois de ler o livro, fiquei com vontade de assistir a adaptação para o cinema de Sofia Coppola.

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FICHA TÉCNICA

Livro: As virgens suicidas

Autor: Jeffrey Eugenides

Editora: Companhia das Letras

Número de páginas: 232 páginas

ISBN: 978-8535922196